Os empregados trabalham em função de resultados ou de relatórios que mascaram os resultados?
Eu tenho uma teoria, que a quantidade de funcionários de uma empresa é proporcional aos resultados mascarados em relatórios.
As empresas pequenas e médias não costumam ter equipes grandes e trabalham próximos, muitos resultados não precisam estar no papel, são conferidos pessoalmente.
Já as grandes multinacionais são famosas por possuírem aquela hierarquia que parece patente de exército, onde o general não conhece nem os tenentes direito, quanto mais os pobres cadetes.
Nesse ambiente, muitas vezes separado geograficamente , o gestor não pode conferir pessoalmente os resultados, portanto ele tenta seguir suas métricas cobrando e analisando os temidos relatórios de resultados.
Não acho isso completamente errado, o problema é a obsessão em atingir as metas, mesmo que seja preciso mascarar resultados ou até mesmo prejudicar os outros com isso.
É a selva de pedra.
A história comprova isso muito bem com diversos exemplos, podemos começar pelo Brasil colônia que enviara relatórios duvidosos para Portugal, sendo esses brasileiros talvez os pioneiros da idéia de sempre levar vantagem.
Na Roma antiga, uma das guerras começou justamente com uma diferença de valores vindos das plantações de territórios já conquistados, como por exemplo o Egito. Na época Júlio César precisou de pulso firme para contornar a situação, esse episódio é exibido no excelente seriado Roma.
Portanto, não é de hoje que as pessoas são reféns de valores em relatórios.
Já prestei serviço em uma empresa que fazia todas as suas manutenções sempre depois da meia-noite. Uma mudança muito simples como aumentar um campo de uma tabela de 50 para 100 caracteres, que poderia ser feita em menos de um segundo e teria um impacto próximo de zero, teria que seguir as regras.
Procurei saber qual o motivo dessa regra existir, e depois de encontrar várias respostas do tipo “sempre foi assim”, finalmente alguém me explicou: existia um relatório que ia para o diretor da empresa que relatava a porcentagem de tempo que a empresa estava online, desde as 6 da manhã até a meia-noite. Como a equipe de infraestrutura não queria se comprometer, lançava todas as alterações para a madrugada.
Em outra empresa tinha outra situação bem interessante: todo dia uma moça era responsável por coletar manualmente informações de aproximadamente 40 servidores rodando diversos serviços; ela levava aproximadamente 4 horas para fazer todo o trabalho. Esse relatório era exigido pela área da matriz da empresa e deveria ser enviado obrigatoriamente todos os dias, até as 14 horas.
Depois de meses fazendo esse processo, apenas 3 vezes o relatório atrasou, e nessas ocasiões não cansaram de ligar exaustivamente cobrando o tão precioso relatório.
A situação parecia ter deixado a moça refém do relatório, mas felizmente o nosso chefe fez uma jogada muito inteligente: ele pediu para ela fazer o relatório e antes de enviar o email , que o chamasse primeiro.
Quando o momento de enviar o email chegou, ela pediu a orientação do meu chefe, que foi a seguinte: “crie uma planilha em branco com o mesmo nome do relatório e mande em anexo. Se alguém reclamar você manda o arquivo correto por email. Se até o final do dia ninguém falar nada, você me avise”.
Não foi só até o final do dia, mas a semana e o mês terminou sem que ninguém reclamasse de nada, a moça continuou mandando o arquivo em branco e economizando algumas horas de trabalho.
Nem sempre quem cobra resultados, confere. =)
Fernando Boaglio, para a comunidade. =)