Numa ensolarada tarde de domingo resolvi passar num famoso frigorífico de São Paulo para comprar o que precisava para fazer o meu churrasco.
Abre parênteses Ana Maria Braga: se você mora em São Paulo ou estiver passando por aqui, não deixe de visitar esse frigorífico, o atendimento e os produtos são excelentes, e tudo isso com ótimos preços; os restaurantes famosos da cidade também compram de lá; fecha parênteses =).
Eu não pude evitar de escutar o seguinte diálogo entre um cliente logo atrás de mim na fila do caixa e um dos ajudantes da loja:
– Nossa, mas aqui o atendimento é muito bom, hein? – comenta o cliente com uma cara de alegria e espanto.
– É verdade – responde o ajudante, retirando as peças de carne do carrinho e colocando no balcão do caixa.
– Vocês são comissionados?
– Claro que não.
– Nããããão? – quase cai para trás o cidadão.
– Não senhor.
– Mas como o atendimento é tão bom desse jeito?
– Aqui a gente só faz o nosso trabalho direito. E não tá bom assim? – responde o ajudante com um tom firme em sua voz.
– Tá sim, sim – concorda o cliente sem entender a situação.
– Mais alguma coisa, senhor?
– Não, não, obrigado.
– Tenha um bom dia.
Essa situação me fez ponderar em várias coisas: muito se escuta de reclamações de remunerações injustas, mas será que você está fazendo o seu trabalho direito?
Note que o julgamento normal das pessoas é pensar que só existe o bom atendimento ou o bom trabalho se existir comissão.
Mas será que isso é a melhor opção de trabalho?
Imagine-se num Shopping Center e entrando numa loja de roupas. Uma pessoa que você nunca viu na vida, cinco minutos depois já está se comportando como o seu melhor amigo(a), dando palpites no seu jeito de vestir, esperando na verdade que você gaste mais do seu dinheiro comprando mais e mais roupas.
Esse é um exemplo de um profissional comissionado, e isso é a melhor opção de trabalho?
Pesem bem as duas situações: será que um profissional comissionado é um melhor profissional ? Eu acredito que não.
Classificar um bom profissional é algo muito subjetivo, mas tem algo que ao longo desses anos me chamou muito a atenção.
O bom profissional não é aquele que tem diploma no exterior ou que tem dúzias de certificações, é simplesmente aquele que ajuda.
É aquele que você gosta de discutir alguma arquitetura, algum design pattern, um processo da empresa, etc. E digo mais: os melhores ainda são aqueles que te oferecem ajuda sem você pedir.
Normalmente essas pessoas cheias de boa vontade e de humildade são os grandes cérebros ninjas da empresa.
Da mesma forma, aquelas pessoas que passam a imagem de super ocupadas e super inteligentes, nem sempre o são. Pensando bem, quase sempre não são!
O que causou essa impressão? Simples: apenas a aparência da pessoa.
Um aspecto nerd, um óculos, uma cara de stress, pronto: aqui está o cara “bom pra caramba” segundo os colegas de trabalho.
Trabalhei numa empresa onde tinha uma pessoa que se encaixava nesse perfil e era um desenvolvedor Java.
Ele era conhecido por ser bom por usar coisas complexas, codificar de maneira não trivial. Ao analisar o propósito e o resultado, percebi que dado um problema, ele sempre optava pela solução mais complicada e mais demorada de fazer.
Aí eu me pergunto: isso é ser “bom pra caramba”?
Eu acho que antes de qualquer coisa, o bom desenvolvedor deve adotar um dos lemas dos arquitetos: a melhor arquitetura é a mais simples.
E depois de toda essa discussão vem a pergunta: será que estou fazendo um bom trabalho ? Uma boa maneira de saber disso é perguntando para os colegas.
Se você já lecionou alguma vez deve saber disso, se não vou contar algo para alguns difícil de acreditar: toda vez que você ensina algo para alguém, você aprende alguma coisa.
Isso acontece por dois motivos:
- quer saber se realmente entendeu? Explique! É a melhor maneira de testar você mesmo, é nessa hora que talvez apareça alguma dúvida sua!
- você está explicando para uma outra pessoa, que tem uma maneira de pensar diferente da sua, um outro ponto de vista. Ela pode ver aquilo que você entendeu de uma ótica que você nunca tinha pensado antes, e comparar com coisas que você não conhece. Em sete anos dando treinamentos oficiais de Oracle e Java, não teve um curso que eu deixei de aprender alguma coisa.
Espero que depois da leitura desse post você procure ajudar alguém, pois tenha certeza que aprenderá com isso e fará o seu trabalho mais saudável.
Apenas tome cuidado com os malandros que confundem ajuda com pena e esperam que você faça o trabalho para eles. Isso nunca, o correto é apenas ensinar. Se ele não quiser aprender, que mude de profissão! =)
Fernando Boaglio, para a comunidade. =)